terça-feira, 27 de março de 2012

Animations of poems

Por que não confeccionar vídeos com poemas ou simplesmente murais com recortes e fotos interpretando as mensagens sentidas. Criamos, recriando, pensando, fazendo.
  



Billy Collins: Estou aqui para lhes dar a sua dose recomendada na dieta de poesia. E a forma como farei isso será apresentando cinco animações de cinco dos meus poemas. Deixem-me contar-lhes apenas um pouco sobre como isso veio a acontecer. Porque a mistura desses dois meios de comunicação é um ato meio incomum ou desnecessário. Mas quando eu era o Poeta Laureado dos Estados Unidos -- e eu adoro dizer isto. (Risos) É uma ótima maneira de começar frases. Quando eu era ele naquele tempo, fui abordado por J. Walter Thompson, a empresa de publicidade, e eles tinham uma espécie de contrato com o Sundance Channel. A ideia era gravar alguns dos meus poemas e depois encontrar animadores para fazer o filme. E, a princípio, eu resisti porque penso sempre que a poesia pode existir por si só. Tentativas de pôr meus poemas ao som de música tiveram resultados desastrosos, em todas elas. E o poema, se escrito com o ouvido, já é definido pela sua própria melodia verbal ao ser escrito. E certamente, se vocês estão lendo um poema que menciona uma vaca, não precisam de um desenho de uma vaca na página ao lado. Quero dizer, deixemos o leitor trabalhar um pouco. Mas cedi porque me parecia uma possibilidade interessante, e também eu sou totalmente viciado em desenhos animados desde a infância. Penso que mais influente do que Emily Dickinson ou Coleridge ou Wordsworth na minha imaginação foram a Warner Brothers, Merrie Melodies e os desenhos da Loony Tunes O Pernalonga é minha musa. E dessa forma, poesia poderia ser difundida, por incrível que pareça, na televisão. E sou muito a favor de poesia em lugares públicos -- poesia nos ônibus, nos metrôs, nos cartazes, nas caixas dos cereais. Quando eu era Poeta Laureado, aqui vou eu de novo -- O que fazer, é verdade -- (Risos) Eu criei um canal de poesias na Delta Airlines que durou dois anos. Vocês podiam ouvir poesia durante o voo. E meu senso é que é uma coisa boa tirar a poesia das estantes e fazê-la mais pública. Comecem uma reunião com um poema. Uma ideia que vocês poderiam levar com vocês. Quando temos um poema num cartaz ou no rádio ou na caixa de cereal ou onde quer que seja, acontece tão repentinamente que não temos tempo de posicionar nossos escudos defletores anti-poéticos que foram ‘instalados’ no segundo grau. Vamos começar com o primeiro. É um pequeno poema chamado “Budapest”, e nele eu revelo, ou finjo revelar, os segredos do processo criativo. (Vídeo) Narração: “Budapest”. Minha caneta move ao longo da página como o focinho de um animal estranho em forma de um braço humano e vestida com a manga de um suéter verde, folgado. Eu a vejo cheirando o papel sem cessar, concentrado como qualquer predador que não tem nada em sua mente a não ser as larvas e insetos que a deixa viver mais um dia. Ela quer apenas estar aqui amanhã, vestida talvez de manga de uma camisa xadrez, nariz pressionado contra a página, escrevendo algumas linhas mais conscientes enquanto eu contemplo a vista da janela e imagino Budapeste ou uma outra cidade em que nunca estive. BC: Então, isto faz parecer um pouco mais fácil. (Aplausos) Escrever, na verdade, não me é tão fácil assim. Mas gosto de fingir que vem com facilidade. Ao final de uma aula introdutória uma aluna me abordou, e disse: “Sabe, poesia é mais difícil do que escrever prosa, ” o que achei tanto errôneo quanto profundo. (Risos) Assim, gosto de pelo menos fingir que apenas a deixo fluir. Um amigo meu tem um slogan, ele é um outro poeta. Ele diz: “Se no início você não tiver sucesso, esconda todas evidências de que já tentou.” (Risos) O próximo poema é bem curto. Poesia simplesmente diz coisas de maneiras diferentes. E acho que podemos resumir um poema dizendo: “Tem dias que você come o urso, noutros o urso te come.” E ele usa como imaginário as mobílias de uma casa de boneca. (Vídeo) Narração: “Tem dias”. Tem dias que ponho as pessoas em seus lugares à mesa, dobro suas pernas na altura dos joelhos, se elas vêm com esta parte essencial, e as arrumo nas cadeirinhas de madeira. A tarde inteira elas se encaram, o homem de terno marrom, a mulher com um vestido azul -- perfeitamente imóveis, perfeitamente comportados. Mas noutros dia sou eu que sou levantado pelas costelas e então confinado na sala de jantar de uma casa de boneca sentado com os outros em torno da mesa longa. Muito engraçado. Mas como você se sentiria se nunca soubesse de um dia para o outro se iria passar o dia andando a passos largos como um deus vivo, seus ombros nas nuvens, ou sentado ali no meio do papel de parede olhando fixo à sua frente com seu rostinho de plástico? (Aplausos) BC: Há um filme de terror em algum lugar. O poema a seguir chama-se esquecimento, e é, na verdade, apenas um ensaio poético no tema falhas mentais. O poema começa com uma certa espécie do esquecimento que alguém chamou de amnésia literária, ou seja, esquecer as coisas que você leu. Vídeo) Narração: “Esquecimento” O nome do autor é o primeiro que se esquece, seguido obedientemente pelo título, a trama, a conclusão de partir o coração, o romance inteiro, de repente torna-se algo que você nunca leu, de que nunca nem ouviu falar. Como se, uma a uma, as memórias que você costumava guardar decidiram retirar-se para o hemisfério sul do cérebro para uma pequena vila de pescadores sem telefones. Faz muito tempo, que você deu adeus aos nomes das nove musas e viu a equação quadrática arrumar as malas. E até agora, enquanto você memoriza a ordem dos planetas, um outro algo foge, um emblema floral talvez, o endereço de um tio, a capital do Paraguai. Seja lá o que for que você se esforça para lembrar, não está pronta na ponta da sua língua, não está nem à espreita em algum canto obscuro em seu baço. Flutuou para longe afora num rio mitológico e escuro cujo nome começa com um L que na medida do possível consegue lembrar já caindo no esquecimento onde você irá se unir aos que se esqueceram até como nadar e andar de bicicleta. Não é de se estranhar que você se levanta no meio da noite para conferir a data de uma famosa batalha num livro sobre guerras. Não é de se estranhar que a Lua à janela parece ter escapado de um poema de amor que você costumava saber de cor. (Aplausos) BC: A seguir, o poema chamado “O Campo” e é baseado, nos meus tempos de faculdade eu tinha um colega na minha classe, que até hoje é meu amigo. Ele morava, ainda mora, na Vermont rural. Eu morava em Nova Iorque. E nós nos visitávamos. Quando eu ia para o campo, ele me ensinava coisas tipo caça de veado, o que basicamente significava nos perdermos segurando uma arma -- (Risos) e pescaria de truta e coisas deste tipo. E depois ele vinha para Nova Iorque e eu o ensinava o que sabia, que era, em grande parte, fumar e beber. (Risos) E, desse modo, trocamos conhecimentos um com o outro. O próximo poema baseia-se em ele tentando me dizer alguma coisa sobre uma regra da etiqueta doméstica da vida no campo que, a princípio, achei muito difícil de aceitar. O poema chama-se “O Campo”. (Vídeo) Narração: “O Campo” Eu fiquei pensando em você quando você me disse que nunca deixasse uma caixa de fósforos que acendem em toda parte jogados pela casa, porque os camundongos poderiam pegá-los e começar um incêndio. Mas a expressão no seu rosto era séria quando você torceu a tampa para fechar a lata redonda onde os fósforos, disse você, ficam sempre guardados. Quem poderia dormir aquela noite? Quem poderia parar de pensar em um camundongo inacreditável tranquilo se movendo ao longo de um cano de água fria detrás do papel de parede floral, agarrando um fósforo entre seus dentes afiados? Quem não poderia ver ele passando pelo canto, a ponta azul riscando a viga rústica, a chama súbita e a criatura, por um momento brilhante, reluzente, de repente empurra de forma radical -- agora um provocador de incêndio, agora um portador da tocha em um esquecido ritual, um pequeno druida amarronzado iluminando uma noite ancestral? E quem poderia deixar de notar, iluminado na insulação em chamas, os olhinhos deslumbrados nas faces dos seus amigos camundongos -- os antigos habitantes do que foi uma vez a sua casa no campo? (Aplausos) BC: Obrigado. (Aplausos) Obrigado. O último poema chama-se “Os Mortos”. Eu o escrevi depois do funeral de um amigo, mas não é tanto sobre o amigo, mas sobre algo dito várias vezes na sua elegia, como é a tendência nas elegias, dizer como o falecido se sentiria feliz ao olhar para baixo e nos ver todos reunidos. E isso para mim é um mau começo para a vida após a morte, ter que assistir ao seu próprio funeral e se sentir grato. Então, o pequeno poema se chama “Os Mortos”. (Vídeo) Narração: “Os Mortos”. Os mortos estão sempre nos olhando, assim dizem. Enquanto colocamos os sapatos ou preparando um sanduíche, eles ficam nos olhando aqui embaixo através dos barcos com fundo de vidro no céu enquanto remam lentamente para a eternidade. Eles observam os topos das nossas cabeças se movendo em baixo, na Terra. E quando nos deitamos no mato ou num sofá, drogados talvez pelo zumbido de uma tarde calorosa, eles pensam que estamos olhando para eles, o que os fazem levantar seu remos e ficar em silêncio e esperar como fazem os pais que fechemos nossos olhos. (Aplausos) BC: Não sei ao certo se vão fazer animação de outros poemas. Levou muito tempo-- Quero dizer, é incomum ter esse casamento -- muito tempo para colocar esses dois juntos. Mas então, de novo, levamos muito tempo para colocar a roda e a mala juntas. (Risos) Quero dizer, tínhamos a roda já há algum tempo. E ‘arrastar coisas’ é uma arte honrosa e milenar (Risos) Apenas tenho tempo para ler um poema mais recente para vocês. Se ele tem um tema, o tema é adolescência. E é dirigido a uma certa pessoa. Chama-se “À minha estudante predileta de 17 anos”. “Você já pensou se você tivesse começado a construir o Parthenon no dia em que nasceu, você o completaria em apenas um ano a mais? Claro, não o poderia ter feito sozinha. Então deixa prá lá; você está bem sendo apenas você mesma. É amada por ser apenas você. Mas você sabia que na sua idade Judy Garland ganhava 150.000 dólares por filme, Joana D’Arc conduzia o exército francês à vitória e Blaise Pascal limpava o quarto dele -- não, espera, quero dizer, ele inventava a calculadora? Claro, haverá tempo para tudo isto mais tarde na sua vida, depois que você sair do seu quarto e começar a crescer, ou pelo menos pegar todas suas meias do chão. Por alguma razão eu fico me lembrando que Lady Jane Grey foi rainha da Inglaterra quando tinha apenas 15 anos. Mas ela foi decapitada, então não pense nela como um exemplo. (Risos) Alguns séculos mais tarde, quando ele tinha sua idade, Franz Schubert lavava a louça para a família dele, mas isto não o impediu de compor duas sinfonias, quatro óperas e duas missas completas, quando era um jovem. (Risos) Mas claro, isso foi na Áustria no apogeu do lirismo Romântico, não aqui nos subúrbios de Cleveland. (Risos) Francamente, que importa se Annie Oakley era uma atiradora de primeira aos 15 anos ou se Maria Callas estreou como Tosca aos 17 anos? Nós pensamos que você é especial simplesmente sendo você -- brincando com sua comida e olhando para o nada. (Risos) À propósito, menti sobre Schubert lavando os pratos, mas isso não quer dizer que ele nunca ajudava em casa.” Obrigado. Obrigado.

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